Não há nada tão humano quanto a perda. Perdemos e perderemos, sempre. Na vida, acumulamos inúmeras dessas experiências e, consequentemente, seus efeitos emocionais. Embora universal como vivência, perder algo ou alguém de grande significado em nossas vidas traz consigo um conteúdo emocional profundamente pessoal. A esse processo, damos o nome de luto.
Trata-se de um fenômeno multifacetado, marcado por diversas emoções, como nostalgia e arrependimento, que podem, quando exacerbadas, dificultar o caminho para a aceitação experiencial, mantendo o enlutado preso em um ciclo de autocríticas, isolamento e hipóteses irreais. Enquanto a nostalgia evoca memórias e saudades idealizadas, reforçando a sensação de ausência, o arrependimento nos confronta com os reflexos de nossas escolhas, feitas ou não, por meio de pensamentos como: “E se eu tivesse dito isso?” ou “E se eu tivesse agido diferente?”.
É fundamental compreender que o luto tem seu próprio ritmo. Embora sejam apontadas etapas como negação, raiva, barganha, depressão e aceitação, a vivência do luto não segue um ciclo padrão ou linear. Cada pessoa simboliza a perda de maneira única e particular. A ressignificação, por sua vez, envolve encontrar novos sentidos para a experiência do luto, incluindo a reconstrução de objetivos de vida alinhados aos valores individuais.
Nesse contexto, manifestações artísticas, como a música e o cinema, desempenham um papel importante no processo de luto. Um exemplo notável é o álbum DeBÍ TiRAR MÁS FOToS, que explora a temática da perda e da memória de forma visceral e poética. As músicas desse álbum validam os sentimentos de quem as ouve e, ao mesmo tempo, expressam emoções que muitas vezes parecem indescritíveis. Outro exemplo é o recém-lançado filme Ainda Estou Aqui, que aborda a perda, a memória da ausência, o luto aberto e a luta incansável pela verdade frente a dor.
A arte diz aquilo que, por vezes, a boca não consegue expressar. É uma via poderosa para compreender e elaborar as emoções associadas à perda, ajudando-nos a transformar a dor em memórias significativas e a construir novo sentido para o futuro. Nas palavras de Ferreira Gullar, “A arte existe porque a vida não basta”.
Bruno Nogueira Garcia - professor do curso de Psicologia da Unifametro